A contagem de gols de Pelé é um dos temas mais debatidos do futebol mundial, gerando controvérsias e opiniões diversas entre torcedores, especialistas e até mesmo instituições oficiais. O próprio Pelé e o Livro dos Recordes mencionam 1.283 gols marcados ao longo de sua carreira, enquanto outros registros apontam para 1.281. Essa diferença ocorre porque os números incluem partidas em campeonatos oficiais, amistosos e jogos festivos, o que abre margem para interpretações distintas sobre o que deve ser considerado um “gol válido”.
Por outro lado, a Fifa mantém uma postura mais rígida e reconhece oficialmente apenas 767 gols feitos pelo Rei do Futebol. A justificativa é simples: a entidade internacional contabiliza apenas os tentos marcados em partidas consideradas oficiais, deixando de fora amistosos e outros jogos não reconhecidos formalmente. Essa metodologia coloca Pelé atrás de Cristiano Ronaldo, que já chegou a 819 gols, além de outros nomes históricos como Josef Bican (805) e Romário (772).
Esse critério, no entanto, ignora aspectos relevantes do contexto esportivo da época em que Pelé atuava. Hoje, torneios como a Liga dos Campeões da Europa e a Copa Libertadores têm enorme prestígio, mas durante os anos 1950, 60 e 70 a realidade era diferente. Além disso, a falta de registros completos devido à tecnologia limitada faz com que muitos gols do passado não estejam devidamente documentados. Muitos dos tentos de Pelé em amistosos, por exemplo, aconteceram durante excursões internacionais que eram muito comuns no futebol brasileiro naquela época.
O Santos, time que Pelé defendeu por grande parte da carreira, possuía um elenco recheado de craques e dependia de receitas vindas desses amistosos. Jogar contra grandes clubes europeus, como Barcelona, Inter de Milão e Real Madrid, era uma forma de garantir dinheiro para o clube, e essas partidas lotavam estádios em diversos países. Até excursões nacionais eram vistas como uma alternativa para reforçar o caixa. Em função dessas viagens, o Santos por vezes abria mão de competições como a Libertadores para dar prioridade a jogos mais lucrativos.
Vale lembrar que o número de gols em jogos oficiais não reflete uma suposta fragilidade dos adversários, mas sim o contexto histórico do esporte. Muitos dos gols considerados “sem valor” por parte dos críticos foram marcados contra equipes das Forças Armadas ou do Sindicato dos Atletas, totalizando apenas 14 gols dessa natureza. Ainda assim, as histórias por trás desses jogos são curiosas: imagine um jovem comum tendo a chance de enfrentar Pelé numa partida informal enquanto servia o Exército brasileiro – algo que, mesmo nos dias atuais, ainda acontece em alguns países, como a Coreia do Sul, onde Son Heung-min cumpriu o serviço militar obrigatório.
No meio de tantos gols, alguns se transformaram em verdadeiras lendas, como o famoso gol marcado na Rua Javari, em 1969, durante uma vitória do Santos sobre o Juventus, em São Paulo. Testemunhas dizem que foi o mais bonito da carreira de Pelé, embora não haja registro em vídeo do lance. Segundo relatos, ele driblou quatro adversários, incluindo o goleiro, com “chapeús” antes de marcar de cabeça. O feito ganhou tanta fama que mais tarde foi reconstruído por computação gráfica.
Quando o assunto é a seleção brasileira, Pelé marcou 95 gols, mas a Fifa contabiliza apenas 77, levando em conta o mesmo critério dos jogos oficiais. Esse número fez com que, por muito tempo, ele fosse o maior artilheiro da história da seleção, posto que recentemente passou a dividir com Neymar.
Em resumo, a quantidade exata de gols de Pelé depende do critério adotado. Para muitos fãs, o número absoluto pouco importa diante do legado, da genialidade e do impacto de Pelé no futebol mundial, eternizando seu nome como o Rei do Futebol.